Para se falar sobre a história do grunge na moda, é preciso, antes de mais nada, entender uma coisa muito importante a respeito desse movimento: o grunge nasceu como um estilo musical que não ligava a mínima para a moda.
Irônico, né? Eu sei. Mas talvez seja exatamente por ser um estilo que nunca se interessou pelo assunto e nunca quis inspirar nenhuma corrente fashionista – e isso tudo não como um ato de rebeldia ao sistema, mas simplesmente como descaso mesmo – que o grunge virou um movimento tão interessante para a moda.
Eu sei que parece confuso, mas fica mais fácil da gente entender essa ideia quando lembramos que esse movimento surgiu no final dos anos 80, época em que ecoavam os últimos suspiros do glam rock e de um cenário musical que, em geral, era fissurado no universo fashion. Havia uma ligação muito forte das bandas e cantores com roupas extravagantes, maquiagens pesadas e muitos acessórios.
Foi portanto no final desse período que surgiu o grunge, pregando exatamente o oposto de tudo isso, com um estilo musical pesado, denso, com composições que falavam sobre dor, angústia e apatia, e que refletiam na maneira de se vestir desleixada e nem um pouco preocupada com padrões estéticos, toda a carga emocional das suas letras.

O estilo nasceu em Seattle, nos EUA, e teve seu grande estouro em 1991, com o lançamento de Nevermind, segundo álbum de estúdio do Nirvana.
O resto da história a gente conhece, né? Nevermind fez – e continua a fazer, quase 25 anos depois! – uma revolução muito além da música. O sucesso foi tanto, especialmente no que diz respeito ao vocalista da banda, Kurt Cobain, e sua esposa e também cantora, Courtney Love, que o Nirvana inspirou uma geração inteira. Com suas letras, seu jeito de pensar, de se vestir e de se portar.
Mas é claro que eles não estavam sozinhos nessa. Outras bandas passaram a também encabeçar o movimento, como Soundgarden, Alice in Chains e Pearl Jam. Grupos que nadavam contra a corrente do mainstream e de tudo aquilo que havia feito sucesso nos anos 80, e mostravam um novo tipo de atitude dentro e fora dos palcos.

Na moda, as roupas “padrões” do estilo grunge prezavam sempre pelo conforto e tinham seus símbolos representados pelas camisas de flanela xadrez, tênis All Star, calças jeans rasgadas, toquinhas, coturnos e camisas simples, muitas vezes com frases ou palavras impressas. Peças que se tonaram quase um uniforme do movimento, e que com o tempo, passaram a fazer parte do armário de meninas e meninos como inspirações unissex.
Sua primeira aparição nas passarelas foi em 1992, quando um jovem designer, diretor criativo da marca Perry Ellis, resolveu que o grunge precisava sair das ruas e ganhar o mundo fashion. Sem medo do que poderia acontecer, ele trocou o brilho e glamour sempre vistos nos desfiles, por uma coleção grunge dos pés à cabeça, gerando um resultado tão chocante e de tamanha repercussão que a marca resolveu demiti-lo.
E vale a pena abrir um parênteses aqui para contar que o nome do jovem estilista era Marc Jacobs e o resultado foi que o garoto, alguns anos após a demissão, assumiu o comando da Louis Vuitton, – onde ficaria pelos próximos 16 anos – transformando a marca em uma das mais rentáveis e alucinantes do planeta, e fazendo da sua própria imagem à de garoto propaganda e ícone fashion.

Com o pontapé inicial já dado por Marc, não demorou muito para que o mundo da moda se rendesse ao grunge, fazendo com que o movimento estourasse nas passarelas, nos editoriais e se massificasse ainda mais nas ruas.
As peças viraram febre, se condensaram em outros estilos e assumiram um lugar definitivo no nosso guarda-roupa, especialmente por serem itens práticos, do dia a dia, fáceis de usar e combinar. O tal conforto e zero de afetação pelo qual o movimento sempre prezou.
Hoje em dia, o grunge vem provando que está cada vez mais vivo, seja como estilo musical, como tendência fashion ou como inspiração para milhares de jovens. Afinal, quem nunca escutou Smells Like Teen Spirit, usou uma camisa “podrinha” ou já escreveu desabafos sobre a vida, que atire a primeira pedra.
E você aí achando que isso era coisa dos anos 90…
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